domingo, 16 de maio de 2021

ALGUMAS POUCAS NOTAS SOBRE OS ARRANJOS DE PODER NA DEMOCRACIA BRASILEIRA A PARTIR DO PRECOCE PASSAMENTO DO PREFEITO BRUNO COVAS

 

O prefeito de São Paulo, Bruno Covas, lamentavelmente falecido na data de hoje, era um dos mais promissores quadros da política brasileira nessa quadra da nossa história. Herdeiro do capital político do avô, Mário Covas, um dos poucos personagens políticos da nossa era que gozava de respeito e prestígio de maneira suprapartidária, o jovem Bruno era um player com formação democrática que se refletia na sua disposição ao diálogo e respeito às instituições republicanas que caracterizam o estado democrático de direito.

De mais a mais, o que a sua precoce partida revela é um traço do arranjo político-partidário da democracia brasileira estruturada pós-estado de exceção protagonizado pela ditadura militar, modelo que já se inicia com um fato controverso: uma eleição indireta para presidência da república após um acordo de bastidores para a rejeição da emenda Dante de Oliveira, que propunha reestabelecer as eleições diretas após 20 anos de governantes militares impostos.

A transição negociada para evitar a escolha popular demandou a colocação de um político que gozasse da confiança dos militares na chapa que venceria as eleições: o vice-presidente José Sarney (MDB), que, como fartamente sabido, assumiria o Palácio da Alvorada em razão da morte do cabeça de chapa representante do campo progressista, Tancredo Neves (PP), sob o qual também não havia veto da caserna.

Em 1989, na primeira eleição direta para presidente da república depois de 25 anos, um outro fato relevante marcaria a retomada da democracia tupiniquim: um partido que não existia até então (PRN), com uma chapa puro-sangue, venceria o pleito que contava com nomes emblemáticos da luta pela redemocratização, tais como Ulisses Guimarães (MDB), Leonel Brizola (PDT), Mário Covas (PSDB), Roberto Freire (PCB) e Lula da Silva (PT), por exemplo.

Quando o “caçador de marajás” foi impeachmado em 1992, o seu vice, Itamar Franco, já pertencia aos quadros do MDB, como produto de um acordo para manter na base de apoio do governo a maior bancada do Congresso. Ato continuado, 14 anos depois, quando a presidenta Dilma sofria impeachment, novamente estava lá um vice do MDB para assumir a presidência da república, desta feita, Michael Temer.

Hoje, com o passamento de Covas, mais uma vez o MDB assumirá um dos comandos políticos mais importantes do país: a prefeitura da megacidade de São Paulo, com Ricardo Nunes.

Ao fim e ao cabo, o que pode ser observado é o fato de que a redemocratização brasileira, que começou com uma eleição indireta e produziu 2 impeachments em menos de três décadas parece ainda precisar de algum tempo para ser considerada consolidada. De outra banda, questão diversa também pode ser observada, que é a constatação de que o MDB possui uma das mais bem sucedidas estratégias de poder do Brasil, priorizando as metas de números nas bancadas no Congresso, abdicando das indicações para chapas majoritárias do executivo e colocando-se como possibilidade permanente de poder auxiliar para os governos do momento, estando há 35 anos navegando e influindo no campo gravitacional do poder.

Os dados aqui tratados, mesmo que em apertada síntese, demostram empiricamente que a democracia brasileira carece de fundamentos sólidos, bem como demonstram também que o sucesso da estratégia do MDB no jogo do poder é inegável.


URL da imagem: nunes-e-covas-868x636.jpg (868×636) (poder360.com.br)