quinta-feira, 10 de agosto de 2017

"FUNDO PÚBLICO DE CAMPANHA" E "DISTRITÃO": UM TAPA NA CARRA DA POPULAÇÃO E DO DESEJO DE MUDANÇA.

Os Depurados federais da comissão especial da reforma eleitoral aprovaram na calada da noite de ontem, sem a atenção da população e os flash ao vivo da grande mídia, um retalho de reforma que representa um duro golpe na expectativa de renovação da desmoralizada e deslegitimada representação política brasileira.

Ao aprovar o fundo público de 3,6 bilhões para o financiamentos das campanhas eleitorais, ao contrário do que se diz, os deputados criaram um mecanismo de brutal desequilíbrio da disputa, já que, pela regra da distribuição proporcional dos recursos, os velhos e grandes partidos receberão a maior fatia do dinheiro. PMDB, PT e PSDB, por exemplo, ficarão com os maiores valores. 

É possível que haja a falsa percepção de que partidos "novos" sejam também beneficiados, tais como o Podemos e o Livres, mas, ressalte-se, é apenas uma ilusão de renovação, pois apesar da nova denominação esses partidos são formados por velhos políticos de velhas legendas que se aglutinam para abocanhar mais recursos, mais tempo de televisão e ainda vender para o grande público a falsa ideia de novidade e renovação na política, mas são apenas velhos políticos, dos velhos partidos, vestindo uma nova fantasia.

Ao lado disso aprovou-se também o "distritão", o que na prática significa que acabaram com o sistema proporcional de representatividade, tornando a eleição para legislativo também Majoritária. Pela nova regra, serão eleitos os candidatos mais bem votados, independentemente de partidos e de quociente eleitoral. Dessa forma, com a maior parte dos recursos do fundo sendo dado aos grandes partidos que são controlados justamente pelos atuais congressistas, serão eles, ou seja, os que já tem mandato, que terão mais dinheiro público para investir nas suas campanhas, bancar estruturas com comitês, agências de marketing, produção e impressão de material gráfico, transporte disponível para deslocamentos, contratação de equipes de abordagem, logística e coordenação, etcetera - isso sem falar da possível eventual captura irregular de sufrágio pelo oferecimento de vantagem financeira indevida em troca do voto...

Isoladamente cada uma dessas medidas já seria danosa e injusta, mas quando conjugadas as duas medidas aprovados são  avassaladoras! 

Com campanha eleitoral reduzida, pouco tempo de televisão e sem acesso ao fundo de financiamento público, as novas lideranças ou os novos postulantes ao congresso, gente realmente fora desse linhagem que está aí, sem parentesco ou compromisso com os velhos figurões, terão muita dificuldade em se apresentar para a população, expor as suas ideias, o seu currículo e a sua história na disputa eleitoral de 2018. As velhas raposas saíram na frente, com os melhores carros e com os holofotes da imprensa voltados para eles. Não legislaram em favor do aperfeiçoamento da democracia brasileira, senão exclusivamente em causa própria!

Nesse contexto, somente uma maior participação da população no processo, explorando a conectividade das redes sociais, provocando o debate, pode reequilibrar a disputa e garantir alguma renovação na política brasileira.

Será preciso mobilização, ação em rede e diálogo para dar uma resposta popular a manobra dos atuais políticos de mandato, mas, de logo, já é possível asseverar com segurança que pelo menos três ações não só não resolvem como pioram a situação, quais sejam:

a) não ir vota
b) votar em branco  
c) votar nulo.

-Por que?

Nesse contexto, cada cidadão que não vota em ninguém duplica a força do voto dado ao velho politico, ao deputado de mandato. Não votar, portanto, além de não resolver nada, ajuda os atuais políticos a se reelegerem!

Essas mudanças nas regras do jogo deverão ser aprovadas em definitivo  pelos jogadores que estão jogando o jogo no plenário,  tornando ainda mais difícil a mudança política, a renovação de quadros no Brasil, mas não as tornaram impossível. Afinal, como diz o parágrafo primeiro do artigo primeiro na nossa Constituição, "todo poder emana do povo"!

Somente o povo mobilizado, consciente e atuando em rede, explorando a conectividade, pode derrotar esse congresso fisiologista, corrupto e inimigo da população e dos seus direitos.


A luta, a cada batalha, se renova!

Isaac Luna