Acidentes
aéreos acontecem, isso é um fato. Políticos e empresários, como pessoas com
volume de deslocamento acima da média são pessoas que estão expostas a essa
realidade e podem morrer em quedas de aeronaves, também é fato.
Ocorre
que, por algum fenômeno que a ciência aeronáutica não desvendou ainda e para o
qual os futurólogos ou a roda da sorte, ou do destino, ou da fortuna (como
diria Maquiavel), não tem explicação, no espaço aéreo brasileiro essa probidade
aumenta em proporções gigantesca em relação a qualquer outro lugar planeta
terra.
Então
vamos lá:
Em
18 de julho de 1967 o Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco sai do sítio
da amiga e escritora Rachel de Queiroz na cidade de Quixadá com destino a
Fortaleza em um avião cedido pelo governo do Estado do Ceará. Trinta minutos
depois um jato da FAB bate a asa (do lado em que o tanque de combustível estava
seco) no avião do ex-presidente que cai e provoca a sua morte (o jato da FAB
não sofreu maiores avarias). Os laudos indicaram que se tratava de um acidente
e o caso foi encerrado.
OBS: Não vamos tratar da morte de JK (22 de agosto de 1976), que foi em um “triste
e fatídico acidente rodoviário”, nem da de Tancredo (21 de abril de 1985), que
além de não ter sido no ar, foi por “causar naturais”.
O
então ministro da Reforma Agrária, uma das questões de maior conflito na
Assembleia Nacional Constituinte envolvendo movimentos sociais e latifundiários,
o pernambucano Marcos Freire, findou-se em 8 de setembro de 1987 na misteriosíssima
explosão do avião em que estava em viajem oficial no sul do Pará, uma das áreas
de maior conflito no campo fundiário no Brasil até hoje. Freire era favorável a
reforma agrária mais ampla e estrutural.
Na
noite de 12 de outubro de 1992 o “homem da Constituição Cidadã” e um dos
principais articuladores do impeachment do ex-presidente Fernando Collor, o Deputado Ulysses Guimarães, morreu na queda
do seu helicóptero particular em Angra dos Reis. Não há registro de comunicação
da aeronave com nenhuma torre, nem dos tripulantes com familiares ou amigos. O corpo
do “Dr. Ulysses” nunca foi encontrado.
No
dia 13 de agosto de 2014 o ex-governador de Pernambuco e forte concorrente ao
Palácio do Planalto naquele ano, Eduardo Campos, morre na impressionante queda
do avião particular em que estava, em plena área residencial de Santos-SP.
Viajando em uma aeronave considerada excelente por especialistas, com um piloto
experiente no comando, Campos saiu de cena em meio a depoimentos de testemunhas
falando em bola de fogo, denúncias de corrupção, incertezas sobre a propriedade
e origem dos recursos que financiavam o avião e uma candidatura que era
considerada promissora por diversos analistas políticos, contado para, no
mínimo, está no segundo turno daquelas eleições.
Em
11 de novembro de 2015 um “acidente” com jato particular de fabricação americana com todas as licenças em dia e voando em tempo aberto e condições favoráveis,
mata o presidente da Bradesco Seguros, Marco Antônio Rossi, e o presidente da
Bradesco Vida e Previdência, Lucio Flávio Conduru de Oliveira, ambos
fortíssimos candidatos a assumirem a presidência do banco. A queda do avião
ocorre em meio a denuncias e investigações envolvendo o Bradesco em escândalos de
corrupção e lavagem de dinheiro. Oito meses após o ocorrido a Justiça Federal
em Brasília aceitou denúncia contra o diretor-presidente do Bradesco, Luiz
Carlos Trabuco, e mais nove pessoas na Operação Zelotes.
O
presidente da mineradora Vale durante 10 anos, Roger Agnelli, despediu-se dessa
existência em 19 de março de 2016, quatro dias depois de enviar uma carta a
então presidente Dilma Rousseff denunciando desvios na empresa. O avião
particular no qual estavam Agnelli e sua família decolou do Campo de Marte em
direção ao aeroporto Santos Dumont e, instantes depois se chocou com uma casa a
cerca de 200 metros da cabeceira 12 do aeroporto, explodindo e matando todos.
Após
instituir uma força-tarefa durante o recesso e de antecipar a volta das férias para
homologar as delações da lava-jato e quebrar o sigilo de mais de 900
depoimentos, o ministro relator operação no STF, Teori Zavascki, morre em um
acidente com avião particular que cai no mar de Paraty. No dia seguinte o
ministro chefe da casa civil da presidência da república diz que com a morte do
ministro o governo “ganhou tempo” e Jornal da Globo News diz que o mercado amanheceu
mais confiante (em razão da morte).
O
post, esclareça-se, é meramente retrospectivo, sem condão de denúncia. Mas,
inegavelmente, o seu conteúdo tem caráter provocativo, busca atiçar o pensamento
e a reflexão mais cuidadosa sobre o peculiar fenômeno brasileiro da seletividade
cirúrgica dos passamentos em razão de “acidentes aéreos”.
Registre-se, por fim: em nenhum dos casos descritos no post há réus – a não ser o mau tempo, a fatalidade e o destino.
Registre-se, por fim: em nenhum dos casos descritos no post há réus – a não ser o mau tempo, a fatalidade e o destino.
É
prudente, nesse caso, pensar bem antes de buscar voos mais altos na política em
terras, ou melhor, em ares brasileiros...
Isaac Luna
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