terça-feira, 3 de janeiro de 2017

A BARBÁRIE QUE NOS RONDA: QUEM SERÁ O PRÓXIMO?



A sucessão de tragédias que marcaram os últimos dias de 16 e os primeiros de 17, de que são exemplos mais midiáticos o extermínio do ambulante a mão crua no metrô (negro/favelado/travesti), a chacina familiar em Campinas (vadias/feministas/'ditadura dos direitos das minorias') e a carnificina no presídio de Manaus (presidiários/'bandido bom é bandido morto') não está fora do repertório das falas corriqueiras do cotidiano, ditas e propagadas inclusive por gente que se presume, pelo status sociocultural que ocupam, bem (in)formadas, bem como por pessoas que se autodeclaram democratas, republicanos e/ou cristãos.

O estado de barbárie não se instala automaticamente como um aplicativo de celular, ele precisa de um ambiente favorável para ir se instalado, se acomodando pouco a pouco. Requer, portanto, uma subjetividade que o respalde, uma aceitação prévia no campo dos valores que formam a consciência coletiva de uma sociedade, como bem diria o percursor da Sociologia Émile Durkheim No seu famoso "A Transfiguração do Político" Michael Maffesoli diz que é muito difícil o indivíduo se desvincilhar da ambiência do seu tempo, sendo fortemente influenciado pelo repertório valorativo/subjetivo do mundo que o cerca. Para ele “a transfiguração do político completa-se quando a ambiência emocional toma o lugar da argumentação, ou quando o sentimento substitui a convicção” - e isso se materializa ou se naturaliza no campo dos discursos!

Entre nós, discursos intolerantes, agressões verbais, racismos, preconceitos e maniqueismos regados pela crença simplista de uma suposta superioridade moral/social vão criando o ecossistema valorativo adequado para a normalização da brutalidade.

Fascistas, misóginos, racistas, ignorantes e intolerantes de todas as espécies vão se sentindo à vontade, confortáveis e, em alguns casos até autorizados a agir violentamente diante das manifestações de apologia à violência que se multiplicam nas mesas de bar, nas conversas em coletivos, nos bate-papos de rua e nas redes sociais.

O anti-intelectualismo, o desprezo à sociologia e a filosofia, o desinteresse crescente pela política e o ódio aos Direitos Humanos completam o roteiro de um filme que, olhando pelo retrovisor da história, já se sabe bem o fim.

Não há saída possível desse quadro sem mudança do contexto subjetivo, do arranjo valorativo predominante no grande grupo social - e isso só é possível por meio da educação no seu sentido mais amplo, orientada precipuamente para a formação do cidadão (aquele que vive a vida política e social da cidade) e não quase que exclusivamente, como se pode perceber atualmente, para a formação de técnicos acrílicos para o mercado. A verdadeira disputa não é direita x esquerda, mas sim ignorância x conhecimento - estamos vivendo uma luta civilizatória!

Enfim, prestemos atenção nos discursos e nas soluções que andamos defendendo ou aplaudindo: na barbárie ninguém está garantido, ninguém está seguro - inclusive você!

Isaac Luna

URL da foto ilustrativahttp://shogunidades.blogspot.com.br/2014/02/quando-impera-impunidade-so-nos-resta.html



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