O fato de Facebook e o WhatsApp terem
se tornado maquinas de julgamento sumários e sentenças condenatórias das mais
duras é apenas um sinal, uma das características de um ambiente social em plena
degeneração ética e democrática.
Como responderíamos se fossemos
perguntados de onde vem os elementos para esse julgamento, quais são as provas,
as evidencias? Os juízes conhecem o caso, ouviram o contraditório? Ou estamos nós diante do puro exercício do desejo de vingança contra qualquer um para
satisfazer os sentimentos reprimidos de injustiça,
insegurança, culpa e desejo de superioridade moral?
A despreocupação com a verdade,
com a comprovação do que se defende ou acredita parece está se tornando regra.
Matérias jornalísticas, ou pior, posts de blogs suspeitos e opiniões de pessoas
sem qualquer ligação profissional ou acadêmica com o assunto passam a ser
replicados como verdades absolutas, incontestáveis, de modo que os que se
atrevem a lançar dúvidas sobre os critérios usados para a imposição da sentença
são imediatamente acusados de cumplicidade, motivação por interesse pessoal, ou
doutrinação partidária. Pensar, refletir, questionar, ponderar, principalmente
acerca dos pontos de vista da grande imprensa tornou-se algo subversivo na
pátria amada Brasil, ou melhor, voltou a ser coisa de comunista, de gente que deve
“ir pra Cuba”, tal qual ocorria nos anos de regime militar, não tão distantes
assim.
Nessa pisada, o jornal britânico
Financial Times publicou no último dia 10 de Janeiro, uma matéria especial
sobre o crescimento do neonazismo no Brasil, apontando a ascensão de figuras
como Jair Bolsonaro e de movimentos de extrema-direita como algo simbólico – e ao
mesmo tempo preocupante – no cenário de crise pela qual passa o País.
O fato é que, se a história pode
nos ensinar algo, a crescente ojeriza ao pensamento contrário (que é a essência
mesmo da democracia), a intolerância nas suas mais diversas manifestações (há,
no contexto atual, até o ressurgimento de movimentos separatistas!), e a prevalência
de discursos moralistas (qual a moral dominante? A moral de quem?), formam um
ambiente propício para a reedição de capítulos históricos que se pensava fora
de cogitação.
Os julgamentos sumários e de
exceção das redes sociais, quase sempre revelando o desejo de extermínio do
outro (Sartre estava certo, “O inferno são os outros”?), são apenas a
manifestação mais visível de uma subjetividade valorativa dominante no seio
social (Nietzsche estava certo: “O único cristão morreu na cruz”?).
O passado pode está bem ali na
nossa frente, encoberto por uma cortina de fumaça sustentada pela opinião
ensimesmada, o desejo de superioridade moral e a incapacidade de conviver com o
diferente.
O nazismo alemão, o fascismo
italiano, ou mesmo os regimes militares da América Latina, incluído o
brasileiro, contaram com apoio popular para se manterem pelo longo período que
se mantiveram, embora hoje, ou mesmo logo após as suas derrocadas, os seus
apoiadores populares tenham sumido, como se nunca tivessem existido, como se
tudo aquilo tivesse sido um absurdo e uma pura violência imposta a sociedade. A
história é assim: quando a cortina de fumaça vai se esvaíndo, os apoiadores dos
regimes moralistas e intolerantes tendem a se recolher no anonimato ou a
negarem suas certezas naquele momento.
Iremos esperar o tombo para nos
recolher, ou, abrir os olhos no nevoeiro e evitar o retrocesso que bate a nossa
porta?
Reflitamos!
Isaac Luna
*A
charge que ilustra o post é conhecida, assinada pelo famoso cartunista Tigre. Endereço eletrônico da imagem: https://lh3.googleusercontent.com/-avtAd-tUTdA/VaAnkrUgMzI/AAAAAAAAg5g/YVcw6kbDpZo/w800-h800/11403306_301678903289804_2711804148986508581_n%255B1%255D.jpg