Dos
ensinamentos maquiavélicos disposto no “O Príncipe”, de 1513, um deles é
bastante categórico e atual, principalmente para o que vivemos hoje na
estratégia de recolonização dos trabalhadores brasileiros, qual seja: dividir
para dominar.
Para o Pensador Florentino o exercício do poder e da dominação se
torna bem mais simples se o príncipe, com perspicácia, dividir os seus
opositores, fragmentá-los, coloca-los em disputa interna. É muito mais fácil
derrotar vários opositores em batalhas isoladas do que vencer todos os
opositores juntos em uma grande batalha.
Pois
bem, o exercício do poder econômico passa necessariamente pelo controle do
sistema produtivo e, consequentemente, das relações de trabalho, suas regras e
limites. Nesse contexto, o sindicato representa a união política dos
trabalhadores na correlação de forças negocial entre os donos do poder
econômico e o obreiro que vende a sua força de trabalho em troca de um salário.
O sindicato é materialização daquela máxima cantada e decantada no conhecimento
popular: unidos somos mais fortes!
O art. 8º
da Constituição Federal de 1988 garante o direito a sindicalização dos
trabalhadores e CLT, dos seus arts. 611 a 625 coloca o sindicato como o sujeito
coletivo responsável pelas negociações com as empresas ou sindicatos patronais
para celebração de acordos ou convenções coletivas de trabalho. O princípio que
está por detrás disso é muito objetivo: a classe trabalhadora politicamente organizada estará
muito mais próxima de uma condição de igualde negocial com o detentor do poder econômico
na busca de melhores condições de trabalho e remuneração. Sozinho o obreiro
terá pouca força para negociar com o dono do posto de emprego, ficando
demasiadamente vulnerável na negociação e muito mais propenso a ceder aos
interesses ou condições impostas pelo patrão.
E então,
justamente por isso é o sindicato que precisa ser enfraquecido, desacreditado, esfacelado
ou até mesmo aniquilado para promover a dispersão dos trabalhadores, criar
conflitos internos na classe e dividir – para melhor dominar.
Como a
turma não brinca em serviço, a Lei n. 13.467/17, também conhecida como reforma
trabalhista tratou de acabar com a contribuição sindical compulsória, através da
qual o trabalhador contribuía com a remuneração de um dia de trabalho durante o
ano para manter o sindicato (você sabe quantos dias de trabalho o trabalhador
paga ao governo em forma de impostos?). A partir da reforma o obreiro precisa autorizar
expressamente o empregador a promover o desconto anual para o sindicato, o que,
com uma forte campanha midiática de vilanização das organizações sindicais fez
com que muitos trabalhadores não desses a referida autorização, enfraquecendo
sobremaneira os sindicatos.
Lembre:
se preciso dividir para dominar e o sindicato é o ponto de união da classe
trabalhadora, quem então preciso esfacelar para garantir a divisão?
Derradeiramente,
a reforma trabalhista passou a considerar, por meio da inclusão do art. 611-A na
CLT, que o que for negociado entre trabalhadores e empregadores por meio de
acordos e convenções coletivas de trabalho prevalecerá sobre o que dispõe a lei
sobre o mesmo tema. A PEC 300, a propósito, propõe a constitucionalização da prevalência
do negociado sobre o legislado, alterando o inciso XXVI do art. 7º da
Constituição Cidadão de 1988!
Ora, se quem negocia com os patrões em
representação do trabalhador é o sindicato (arts. 611-625 da CLT), nada mais
genial do que bater com cano de ferro nele, jogando-o ao chão, para negociar
com um sindicato fraco, ferido e desacreditado. A jogada foi brilhante... Bingo,
Maquiavel!
O
mais impressionante de tudo isso, o que merece uma nota histórica sobre o
momento que vivemos, diz respeito ao fato de que o desmonte dos direitos
trabalhistas e das organizações políticas de defesa do trabalhador se dá não só
sob o ensurdecedor silêncio com também com a complacência e apoio de parte considerável
dos próprios trabalhadores. A isso, Karl Marx chama de ideologia...
Em
1846, ao escrever “A Ideologia Alemã”, o barbudo subversivo se proponha a
investigar cientificamente o seguinte problema: “Como a ideologia mascara a divisão do trabalho e gera a alienação?”. Segundo
Marx, as ideias dominantes de uma época são ideias da classe política e economicamente
dominante dessa determinada época – o que, na verdade, dá no mesmo, pois
segundo ele a classe economicamente dominante, justamente por ser
economicamente dominante, se torna também a classe politicamente dominante e,
por esse turno, passa a ter o monopólio de legislar, transformando o direito em
instrumento de defesa dos seus interesses e por via de consequência, de
dominação. Assim, o papel da ideologia é “inverter a realidade”, fazendo com
que a classe trabalhadora acredite que as teses apresentadas pela classe
economicamente dominante na defesa dos seus interesses particulares são também
teses que interessam a defesa dos interesses dos trabalhadores. Daí a existência
de gente assalariada defendendo ou silenciando diante do desmonte dos direitos
trabalhistas.
Para
que a dominação não pareça despótica é preciso fazer crer que ela é racional,
boa e desejável. Em outras palavras: é preciso fazer crer que os interesses econômicos
da classe dominante são também bons para toda a sociedade, formada
majoritariamente por trabalhadores não proprietários de capital financeiro ou meios
de produção em escala... Bingo, Marx!
E
o samba de Gonzaguinha, o que tem a ver com isso?
Ah,
todo a ver – é síntese de tudo que foi dito nessas linhas. Bom carnaval e se
abraça ai com essa promoção...
COMPORTAMENTO
GERAL
Você
deve notar que não tem mais tutu
e
dizer que não está preocupado
Você
deve lutar pela xepa da feira
e
dizer que está recompensado
Você
deve estampar sempre um ar de alegria
e
dizer: tudo tem melhorado
Você
deve rezar pelo bem do patrão
e
esquecer que está desempregado
Você
merece, você merece
Tudo
vai bem, tudo legal
Cerveja,
samba, e amanhã, seu Zé
Se
acabarem com o teu Carnaval?
Você
merece, você merece
Tudo
vai bem, tudo legal
Cerveja,
samba, e amanhã, seu Zé
Se
acabarem com o teu Carnaval?
Você
deve aprender a baixar a cabeça
E
dizer sempre: "Muito obrigado"
São
palavras que ainda te deixam dizer
Por
ser homem bem disciplinado
Deve
pois só fazer pelo bem da Nação
Tudo
aquilo que for ordenado
Pra
ganhar um Fuscão no juízo final
E
diploma de bem comportado
Você
merece, você merece
Tudo
vai bem, tudo legal
Cerveja,
samba, e amanhã, seu Zé
Se
acabarem com o teu Carnaval?
Você
merece, você merece
Tudo
vai bem, tudo legal
Cerveja,
samba, e amanhã, seu Zé
Se
acabarem com o teu Carnaval?
Você
merece, você merece
Tudo
vai bem, tudo legal
E
um Fuscão no juízo final
Você
merece, você merece
E
diploma de bem comportado
Você
merece, você merece
Esqueça
que está desempregado
Você
merece, você merece
Tudo
vai bem, tudo legal
(Gonzaguinha.
Álbum: Luiz Gonzaga Jr., 1973)
Qual o melhor BOM DIA? aquele que Deus preparou ou o que seu amigo desejou?
ResponderExcluirTudo vai bem um ESCAMBAL temos que tretar o outro como IGUAL mesmo que seja totalmente diferente.
Bela e prudente reflexão para o Carnaval. Um abraço