O ponto de partida do presente post é o
seguinte: a Política é um dos
produtos da vida social derivado da cultura geral dos povos.
Para ficar mais clara a linha de
raciocínio, importante esclarecer que o termo cultura é considerado aqui no seu
conceito antropológico, como bem já expôs o professor Roque de Barros Laraia (Cultura:
Um Conceito Antropológico, Zahar Editor, 2011), ou seja, como um “saber fazer histórico” característico de cada povo nas suas diferentes formas
de organização social, para lembrar o debate proposto pelo grande antropólogo José
Luiz do Santos (O Que É Cultura, Editora Brasiliense, 19996).
A política, portanto, é reflexo da
capacidade de compreensão do mundo ao redor e dos valores predominantes na
sociedade, frutos, em grande medida, do nível de educação, formação e erudição
presentes no seio social. Ideias como
cidadania, liberdade, humanismo, tolerância estão diretamente relacionados ao
tipo e a qualidade do conhecimento produzido e disseminado coletivamente.
Nesse sentido, vivemos tempos de
desprezo pelo conhecimento, o que é facilmente percebido pelas baixíssimas
taxas de leitura, afrouxamento avaliativo na formação, monumental
desconhecimento da história, ojeriza à Filosofia, à Sociologia ou a qualquer
outro campo crítico do pensamento humano. Estaríamos na era do Culto ao Amador, como bem alerta Andrew Keen (Zahar Editor, 2007) e da absoluta irresponsabilidade com o
cuidado de checar as fontes das informações lidas, compartilhadas e defendidas
como expressão acabada e inquestionável da verdade, levando ao que a Universidade de Oxford denominou de
tempo da “Pós-Verdade” (não
importam os fatos objetivos, mas sim aquilo que confirma o que se acredita ou se
deseja previamente, os ditos pré-conceitos. A verdade é secundária!).
Na outra ponta da sinuca está a questão
valorativa, os preceitos morais, o senso ético de comunidade, cidadania e
humanidade observado em dada sociedade. Uma
rápida olhada no face book mostra que atravessamos um momento que sugere forte
influência de valores que negam os ideais que construíram o que ficou conhecido
como idade da razão, era das luzes e humanismo. Nesse mesmo sentido, ainda no final do
século XIX o filósofo alemão Friedrich
Nietzsche já havia alertado que o conjunto valorativo intitulado de “Ética
Cristã” não passava de um discurso apartado das reais práticas
cotidianas do homem ocidental (O Anticristo, Martin Claret, 2005).
Para ele, o conceito de cristão deveria ser atribuído àquele que, no caso
concreto da vida real age tal qual o Cristo agiria se estivesse no seu lugar, o
que não acontecendo mostraria, segundo ele, a hipocrisia do dito cristão que
não orienta a sua vida pelos valores defendidos por aquele que ele diz seguir –
o Cristo.
O
desejo de extermínio do outro como solução, o desprezo e a espetacularização do
sofrimento humano, o ataque a liberdade e o ódio a homossexuais, negros,
nordestinos ou qualquer pessoa que tenha uma compreensão de mundo diversa é prática recorrente, aplaudida e
compartilhada por jovens atônitos em um mundo de difícil compreensão,
pequenos burgueses ciosos por se tornarem grandes burgueses, moralistas de
todos os tipos e gente que, mesmo de boa-fé, acredita em supressão de direitos,
violência e autoritarismo como soluções para os problemas sociais.
POIS
BEM: A EXISTÊNCIA DE SEGUIDORES E DEFENSORES DE BOLSONARO É PRODUTO DESSA
REALIDADE CULTURAL QUE CARACTERIZA A CENA BRASILEIRA ATUAL.
Chega a ser impressionante ver mesmo
gente com diploma de nível superior fazendo comparações anacrônicas e
absolutamente despropositadas, falando de inimigos perigosos como o comunismo e
Venezuela, etc. A radicalização do discurso é resultado do desejo de poder ou
de servir ao poder aliado ao desconhecimento da história, da sociedade e da
política.
Figuras messiânicas, autoritárias e
vazias de conteúdo – que sempre existiram – surgem nesses contextos: o
“Bolsomito” não é diferente, é apenas mais um candidato a ditador que encontra
eco em parte dessa sociedade que temos hoje em terras brasileiras.
Será
eleito? Muito difícil,
apesar de não ser impossível. Lembro de um livro que li há uns 20 anos, do então
professor Cristovam Buarque, intitulado A Eleição do Ditador, mostrando que a
manipulação das massas pode levar a qualquer resultado eleitoral, até ao mais
absurdo (Editora Paz e Terra, 1988).
Contudo, numa campanha pra valer a
ausência de propostas e de conteúdo ficará exposta, as meras bravatas e frases
de efeito terão dificuldade em convencer a maioria da população sobre questões
relevantes no dia a dia das pessoas, tais como políticas públicas para
educação, saúde, assistência social, juventude, cultura, mulher, diversidade,
questões étnico-raciais, geração de emprego e renda, salário mínimo, etc. O que você conhece de propostas do “mito”
sobre essas questões? E sobre política econômica, relações exteriores,
pacto federativo? Provavelmente nada!
Aguardemos 2018!
Isaac Luna
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