Segundo estudiosos da sociologia moderna, vivemos a era da sociedade do consumo,
marcada sobretudo pelo desperdício e pela descartabilidade de tudo. Do copo ao
celular, do televisor a impressora, da roupa ao enlatado, tudo é fast-food, tudo
é feito para durar pouco, para ser descartado imediatamente ou a curto prazo. Na
lógica do consumo, diz-nos o já saudoso Zygmunt Bauman, nada é feito para durar.
Diante dessa definição, um dos principais problemas a ser enfrentado pela
sociedade atual é o destino das toneladas de lixo produzido diariamente. O
século XXI começou justamente com o debate da sustentabilidade na ordem do dia,
o que envolve para além da questão ambiental, elementos relacionados a economia,
a saúde e a dignidade da pessoa humana, tudo isso condensado no famoso conceito
de bem-estar social, ou welfare state, como diriam os europeus da segunda metade
do século XX.
Como todo debate social, há muitas ideias, discordâncias e
embates, mas também há consensos, há pontos sobre os quais todos concordam, e um
deles é a impropriedade do que conhecemos por lixão, espaços inapropriados para
os quais o poder público encaminha o lixo recolhido no dia. Lixões são ambientes
inóspitos e insalubres, gerando problemas na saúde pública, provocando poluição
ambiental, contaminando o solo e criando situações de exposição de indivíduos a
condições de subtrabalho incompatíveis com os níveis desejáveis de dignidade
humana. Governos modernos de cidades socio-ambientalmente responsáveis trataram
desde o início do século de viabilizar a substituição dos lixões, símbolos do
passado, pelos aterros sanitários, marcas do futuro.
Essa certamente não é uma
operação simples, pois além de construção de projetos, viabilização de espaços e
grande investimento público, o fechamento de lixões depende, essencialmente, de
vontade política. Para cidades históricas com potencial turístico,
principalmente o turismo cultural e ambiental, a existência de lixões é um
entrave ao financiamento dos órgãos públicos federais e estaduais de fomento,
bem como um empecilho a atração de visitantes, sendo uma mancha na imagem da
cidade.
A Barbalha, como salta aos olhos, se encaixa justamente nesse caso, já
que, sendo uma cidade histórica, turística e cultural, não comportava mais um
lixão na beira da estrada que leva a um dos seus principais pontos de visitação,
que é a vila do Caldas, onde se encontram o Balneário, o teleférico,
restaurantes com o cardápio da culinária típica do pé-de-serra e vários outros
atrativos de entretenimento no seu entorno.
Para além da saúde pública, da
questão ambiental e da dignidade humana, o fim do lixão traz também a
expectativa da potencialização do turismo e, com ele, do aquecimento da economia
com a consequente oferta de mais emprego e mais renda para a população.
Ao lado
da estátua de Santo Antônio, da requalificação das ruas do centro histórico, da
construção da nova rodoviária e do novo mercado, o fim do velho e arcaico lixão
é símbolo de uma nova cidade que está em gestação.
O século XXI começou há mais
de 20, a lei dos resíduos sólidos já existe há mais de 10. Ou seja: uma demanda
de 20 anos foi resolvida nos dois primeiros anos da nova gestão. Viva a
Barbalha!