Cena do filme "Ensaio Sobre a Cegueira", baseado no livro homônimo de José Saramago
Os modernos contratualistas, principalmente
Locke e Rousseau, vão organizar o pensamento herdado dos gregos clássicos e
fundar a democracia moderna para evitar o obscurantismo e a tirania. Diziam
eles: olhem para a política.
Grosso modo, mas indo direto ao
ponto, não há saída fora da política! É ela que define o valor do salário
mínio, a quantidade de impostos que pagamos, as verbas para educação,
saneamento, saúde e segurança pública; é ela que diz o limite da atuação da polícia,
a abrangência do programa de vacinação, os programas sociais de distribuição de
renda, a liberdade da imprensa, a criminalização do racismo, da homofobia e do sexismo .
É pela política que os cidadãos se
emancipam e tornam-se parte do processo decisório da administração pública, que
escolhem os administradores e que podem se colocar para a avaliação dos seus
pares para também servirem a sua cidade, estado ou país na busca do bem comum.
A política é coletiva, participativa e plural. Olhe para a política.
Partidos, sindicatos, associações, líderes
comunitários, políticos em geral, eleitos e não eleitos, movimentam a vida em
coletividade e dão sentido as ideias de liberdade e participação - de cidadania
em última análise. Olhe para a política.
Na dialética da vida social há também
movimentos e processos que buscam a alienação, a dominação, o controle total, o
cerceamento das liberdades, a diminuição de direitos, o desprezo ao
conhecimento, o desejo de superioridade, o ultra individualismo, a acumulação
sem limites, uma sociedade desigual. Esse campo vai dizer sempre e em voz alta:
não olhe para a política.
Bertolt Brecht alertava “Que
continuemos a nos omitir da política é tudo o que os malfeitores da vida
pública mais querem” e Platão vaticinava: “O preço a pagar pela tua não
participação na política é seres governado por quem é inferior”. A vida não
vai mudar sem a política e quanto menos olharmos com atenção para ela, mais longe
da emancipação estaremos. Olhe para a política.
Quanto mais nos afastamos da
política, mas sujeitos a dominação estaremos. Com os seus erros e acertos é a
política que nos garante voz, ganhando e perdendo eleições é através dela que
nos tornamos protagonistas da nossa própria história coletiva. É preciso
participar, discutir, compreender, reivindicar, mas, todo namoro começa com um
olhar...
Olhe para a política e aproveitando a ocasião, olhe também para cima!