De mais a mais, o que a sua
precoce partida revela é um traço do arranjo político-partidário da democracia
brasileira estruturada pós-estado de exceção protagonizado pela ditadura
militar, modelo que já se inicia com um fato controverso: uma eleição indireta
para presidência da república após um acordo de bastidores para a rejeição da
emenda Dante de Oliveira, que propunha reestabelecer as eleições diretas após
20 anos de governantes militares impostos.
A transição negociada para evitar
a escolha popular demandou a colocação de um político que gozasse da confiança
dos militares na chapa que venceria as eleições: o vice-presidente José Sarney
(MDB), que, como fartamente sabido, assumiria o Palácio da Alvorada em razão da
morte do cabeça de chapa representante do campo progressista, Tancredo Neves
(PP), sob o qual também não havia veto da caserna.
Em 1989, na primeira eleição
direta para presidente da república depois de 25 anos, um outro fato relevante
marcaria a retomada da democracia tupiniquim: um partido que não existia até
então (PRN), com uma chapa puro-sangue, venceria o pleito que contava com nomes
emblemáticos da luta pela redemocratização, tais como Ulisses Guimarães (MDB),
Leonel Brizola (PDT), Mário Covas (PSDB), Roberto Freire (PCB) e Lula da Silva
(PT), por exemplo.
Quando o “caçador de marajás” foi
impeachmado em 1992, o seu vice, Itamar Franco, já pertencia aos quadros do
MDB, como produto de um acordo para manter na base de apoio do governo a maior
bancada do Congresso. Ato continuado, 14 anos depois, quando a presidenta Dilma
sofria impeachment, novamente estava lá um vice do MDB para assumir a
presidência da república, desta feita, Michael Temer.
Hoje, com o passamento de Covas,
mais uma vez o MDB assumirá um dos comandos políticos mais importantes do país:
a prefeitura da megacidade de São Paulo, com Ricardo Nunes.
Ao fim e ao cabo, o que pode ser
observado é o fato de que a redemocratização brasileira, que começou com uma
eleição indireta e produziu 2 impeachments em menos de três décadas parece ainda
precisar de algum tempo para ser considerada consolidada. De outra banda, questão diversa também pode ser observada, que é a constatação de que o MDB possui uma
das mais bem sucedidas estratégias de poder do Brasil, priorizando as metas de
números nas bancadas no Congresso, abdicando das indicações para chapas
majoritárias do executivo e colocando-se como possibilidade permanente de poder
auxiliar para os governos do momento, estando há 35 anos navegando e influindo no
campo gravitacional do poder.
Os dados aqui tratados, mesmo que em apertada síntese, demostram empiricamente que a democracia brasileira carece de
fundamentos sólidos, bem como demonstram também que o sucesso da estratégia do
MDB no jogo do poder é inegável.
URL da imagem: nunes-e-covas-868x636.jpg (868×636) (poder360.com.br)