A política se perfaz por meio da
representação, que pode se manifestar por signos, símbolos, ideias, etc. Quanto
mais elevado o cargo a que se concorre, mais isso se materializa. No caso do
presidente da república, o seu perfil pessoal, os valores e práticas que
defende, sua história e seus discursos respaldam determinado pensamento social:
é o que o pai da sociologia, Émile Durkheim, chamaria de “consciência coletiva”.
Tocando em miúdos: Se o presidente é um apoiador declarado da tortura, os
torturadores se sentem subjetivamente autorizados e respaldados para torturar,
se relativiza o estupro, estupradores em potencial sentem-se mais encorajados,
se não tem apreço pela liberdade os autoritários se sentem fortalecidos.
Vamos ao X da questão: Quem é
Bolsonaro?
- Um deputado do baixo clero
eleito e reeleito majoritariamente por saudosistas da ditadura militar, homofóbicos,
misóginos e racistas no Estado símbolo da violência urbana e da corrupção, sem
que nunca tenha movido uma palha para lutar contra isso no seu próprio quintal.
Aliás, levou a família para a política, nunca abriu mão de nenhum privilégio -
é useiro e vazeiro das mais arraigadas práticas da velha política.
Porém, há algo ainda mais
assustador na política brasileira atual do que Bolsonaro: é o “bolsonarismo”
O que é o "bolsonarismo?
- Forma de pensar e interpretar o mundo e a
realidade com fundamento em ideias e valores respaldados pelo discurso político
historicamente defendido pela família Bolsonaro e mais recentemente pelos seus
apoiadores políticos mais diretos. É o agrupamento pela
representação política em acessão do arcaico, retrógrado, dantesco pensamento
social que estava disperso e sob o controle do processo civilizatório e limite da lei, mas que encontrou na figura do capitão falastrão um símbolo de representação social e
política, saindo das escuras e se apresentando a luz do sol. O “bolsonarismo” é a
janela aberta para que o ódio a liberdade, a igualdade, a fraternidade, a
diversidade e ao multiculturalismo encontre respaldo político, se sinta
representado e autorizado a “agir” de acordo com os seus métodos e concepções.
Não são poucos os casos que se
acumulam de agressões, ameaças, constrangimentos e até assassinatos já
registrados e que foram praticados por pessoas ligadas ao “bolsonarismo”, cujas
motivações declaradas são racismo, misoginia, homofobia, discursos de
supremacia e um outro carretel de coisas facilmente encontradas na coleção de
discursos e declarações que formam a história política de Bolsonaro, dos
seus filhos, dos seus assessores diretos e “homens fortes” escolhidos para um
eventual governo: o seu vice fala de “auto-golpe”, seu economista de mais
impostos, seu filho de prender ministro do Supremo e fechar a Corte...
Por justiça e honestidade, é preciso dizer que nem todo eleitor de Bolsonaro é soldado do "bolsonarismo". Tenho familiares, amigos, colegas
de trabalho, alunos e conhecidos que votam em Bolsonaro e que estão muito longe
de serem fascistas, racistas, sexistas, misóginos ou apologistas da violência.
Isso é fato. Da mesma forma também é fato que há, no Brasil, pessoas e grupos
que simpatizam e até defendem essas coisas, mas que, da redemocratização pra
cá, nunca se sentiram representados por nenhum discurso ou candidato que, sob
as suas perspectivas, respaldasse tais visões de mundo e da política - até a
chagada de Bolsonaro! Portanto, afirmar genericamente que os eleitores de
Bolsonaro são misóginos, racistas, sexistas, racistas, etc., não é um dado de
realidade, há muitos que não são. Mas, dizer que os grupos e indivíduos que
simpatizam com tais ideias, saudosistas da ditadura militar, neonazistas e
supremacistas de todas as espécies estão entusiasmados e engajados na campanha
do capitão e do general, é, igualmente fato e, portanto, dado de realidade.
É sempre bom reafirmar:
nem todos os eleitores de Bolsonaro flertam com o fascismo, mas também não é
possível negar que os que flertam com o fascismo votam em Bolsonaro.
No debate, inclusive na
contestação do que se expõe nessas linhas, o bolsonarismo também se revela na
estratégia argumentativa de defesa do projeto político do seu líder. Seja qual
for o tema, a denúncia ou o questionamento, ele será rebatido imediatamente com
os seguintes contra-argumentos:
- #B17;
- É melhor já ir se acostumando;
- Vai pra Cuba/Venezuela; e
- Aceita que dói menos.
O bolsonarismo, enfim, é um
sentimento que se manifesta de diferentes formas, mas quase sempre com características
excludentes e violentas. O bolsonarismo é maior e pior que Bolsonaro – ele é
apenas o mantra utilizado para a manifestação das mais diversas formas de
violência que vem sitiando a nossa sociedade.
Schopenhauer alertava, com um
pouco mais cautela que Tiririca, que nenhuma situação está tão ruim a ponto de
não puder piorar.
É melhor não pagarmos pra ver!