Os Depurados federais da comissão
especial da reforma eleitoral aprovaram
na calada da noite de ontem, sem a atenção da população e os flash ao vivo da
grande mídia, um retalho de reforma que representa um duro golpe na expectativa
de renovação da desmoralizada e deslegitimada representação política brasileira.
Ao aprovar o fundo público de 3,6 bilhões
para o financiamentos das campanhas eleitorais, ao contrário do que se
diz, os deputados criaram um mecanismo de brutal desequilíbrio da disputa, já
que, pela regra da distribuição proporcional dos recursos, os velhos e grandes
partidos receberão a maior fatia do dinheiro. PMDB, PT e PSDB, por exemplo,
ficarão com os maiores valores.
É possível que haja a falsa percepção de que
partidos "novos" sejam também beneficiados, tais como o Podemos e o Livres,
mas, ressalte-se, é apenas uma ilusão de renovação, pois apesar da nova
denominação esses partidos são formados por velhos políticos de velhas legendas
que se aglutinam para abocanhar mais recursos, mais tempo de televisão e ainda
vender para o grande público a falsa ideia de novidade e renovação na política,
mas são apenas velhos políticos, dos velhos partidos, vestindo uma nova
fantasia.
Ao lado disso aprovou-se também o
"distritão", o que na prática significa que acabaram com o sistema
proporcional de representatividade, tornando a eleição para legislativo também
Majoritária. Pela nova regra, serão eleitos os candidatos mais bem votados,
independentemente de partidos e de quociente eleitoral. Dessa forma, com a
maior parte dos recursos do fundo sendo dado aos grandes partidos que são
controlados justamente pelos atuais congressistas, serão eles, ou seja, os que
já tem mandato, que terão mais dinheiro público para investir nas suas
campanhas, bancar estruturas com comitês, agências de marketing, produção e impressão
de material gráfico, transporte disponível para deslocamentos, contratação de
equipes de abordagem, logística e coordenação, etcetera - isso sem falar da
possível eventual captura irregular de sufrágio pelo oferecimento de vantagem
financeira indevida em troca do voto...
Isoladamente cada uma dessas
medidas já seria danosa e injusta, mas quando conjugadas as duas medidas
aprovados são avassaladoras!
Com campanha eleitoral reduzida,
pouco tempo de televisão e sem acesso ao fundo de financiamento público, as
novas lideranças ou os novos postulantes ao congresso, gente realmente fora
desse linhagem que está aí, sem parentesco ou compromisso com os velhos
figurões, terão muita dificuldade em se apresentar para a população, expor as
suas ideias, o seu currículo e a sua história na disputa eleitoral de 2018. As
velhas raposas saíram na frente, com os melhores carros e com os holofotes da
imprensa voltados para eles. Não legislaram em favor do aperfeiçoamento da
democracia brasileira, senão exclusivamente em causa própria!
Nesse contexto, somente uma maior
participação da população no processo, explorando a conectividade das redes
sociais, provocando o debate, pode reequilibrar a disputa e garantir alguma
renovação na política brasileira.
Será preciso mobilização, ação em
rede e diálogo para dar uma resposta popular a manobra dos atuais políticos de
mandato, mas, de logo, já é possível asseverar com segurança que pelo menos
três ações não só não resolvem como pioram a situação, quais sejam:
a) não ir
vota
b) votar em branco
c) votar nulo.
-Por que?
Nesse contexto, cada cidadão que
não vota em ninguém duplica a força do voto dado ao velho politico, ao deputado
de mandato. Não votar, portanto, além de não resolver nada, ajuda os atuais
políticos a se reelegerem!
Essas mudanças nas regras do jogo
deverão ser aprovadas em definitivo
pelos jogadores que estão jogando o jogo no plenário, tornando ainda mais difícil a mudança
política, a renovação de quadros no Brasil, mas não as tornaram impossível.
Afinal, como diz o parágrafo primeiro do artigo primeiro na nossa Constituição, "todo poder emana do povo"!
Somente o povo mobilizado,
consciente e atuando em rede, explorando a conectividade, pode derrotar esse
congresso fisiologista, corrupto e inimigo da população e dos seus direitos.
A luta, a cada batalha, se
renova!
Isaac Luna